"Ó vós que aqui entrais: perdei toda a esperança!"

sábado, 25 de setembro de 2010

O instrumento

“Minha cólera se inflamará e vos farei perecer pela espada; vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos"

(Êxodo 22:24)


“Ela é virgem!” Gritava uma.

“Ela é MUITO ridícula!” Complementava outra.

Era uma rodinha, com cinco pessoas dando gargalhadas nojentas.

“Não sabe o que é chupar um pau!” “Hahahaha!” Riam todos, alegres, satisfeitos com sua crueldade. Hipócritas. Esbanjavam orgulho, não passavam de 18, não haviam casado, mas já haviam transado.

“Não sabe que gosto o gozo tem!” “Hahahahaha!”

A pobre garota, haha, me enoja, na verdade, todos me enojam, estão todos perdidos, iludidos, corrompidos, não entendem a verdadeira palavra, eu devia trazer um revólver pra escola... Atirar na cara de cada um deles. Não sei, acho que não é isso que está reservado pra mim, na verdade, isso só seria luxúria, matá-los para meu bel prazer. Luxúria é pecado.

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Hoje ela se declarou para um garoto, disse que o amava, instantaneamente todos começaram a rir, o garoto se sentiu ofendido, negou-a, ela tentou abraçá-lo, ele a empurrou, ela caiu e bateu a cabeça em uma mesa, gargalhadas perversas estouraram, por que meu Deus, por que permites que vivam em vossa Terra tão terríveis criaturas?! Por que me colocaste junto com esses monstros?!

Ela chora, chora muito. Não posso vê-la assim. Vou até ela e a ajudo a levantar, ela me olha com os olhos vermelhos e aguados. Nos olhamos por alguns segundos. Seu delicado toque me fez sentir algo. Epifania. Sei o que fazer.

Não se preocupe, fútil criança, esses desgraçados não perdem por esperar, aprenderão uma lição que deviam ter aprendido nos primeiros anos de vida: “Os anjos do céu só estão dizendo amém”. Neste caso, Eu sou os anjos e Eu digo “amém”.


“Toma cuidado para que a cólera não te inflija um castigo, e para que o tamanho do seu resgate não te perca”

(Jó 36:18)


Dia após dia, me levantei cedo para ir para aquele inferno, aquela cessão de tortura. Dia após dia. Semana após semana. Mês após mês. A esta altura, não vejo mais vida nos olhos dela, não vejo mais amor, depois de tanta porrada, ela já está anestesiada pelo sofrimento. Mas agora, entendo claramente, Deus me colocou aqui por uma razão, tenho certeza, aplicar o seu julgamento.

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Fim de semana, sete e meia, o Natal é no mês que vem, estou na baixada do Glicério. Espero encostado em um poste. Silhueta na calçada. Homem de mochila. Vem em minha direção. “Trouxe o dinheiro?”. Entrego um envelope dobrado pra ele. “Quanto tem aqui?”. “Mil e cem”. O homem tira da mochila um objeto enrolado em um pano e me entrega. “Você nunca me viu”. “Deus lhe abençoe”. Saí.


“Suplico aos que lerem este livro, que não se deixem abater por estes tristes acontecimentos, mas que considerem que estes castigos tiveram em mira não a ruína, mas a correção da nossa raça”

(II Macabeus 6:12)


Ninguém em casa, entro ansioso, desenrolo o objeto, revólver, pesado, belo, com as palavras “Per il Sant'Uffizio” gravadas no cano. Sinto meus olhos cintilarem, as luzes natalinas prematuras na rua começam a borrar, estou chorando.

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Ultimas semanas de aula, “Ela vai terminar o terceiro colegial sem dar!” “hahahaha”! “ Nojentinha, idiota, fútil!” “Hahaha!”. “Gente, vocês não tem dó dela?” “Claro que não, gente idiota tem que sofrer mesmo”. De hoje não passa. Sinal. Fim da aula.

Acompanho a coitada pela rua. Ela não percebe minha aproximação. Coloco a ponta do revolver em suas costas. “Continue andando” “T... ta, o que você quer?”. “Continue andando!” dou uma porrada na costela dela, ela paraece não a sentir dor. “Tudo bem”. Olho pro relógio. A levo pra uma escola pública próxima, é um lugar grande, com algumas árvores. “Trouxe seu RG?”, “O quê?”, “Trouxe?!”, “Sim”. Ela está fria, aqueles monstros, destroçaram a alma dela. Olho pro relógio. “O que você vai fazer comigo?” “Te tornarei imortal, te tornarei amada e te tornarei vingada”. Chegamos nos fundos da escola. “Ajoelha”. Ela me obedece, calada. Vejo o brilho ressurgir em seus olhos, foi a vez dela de ter a epifania, ela entende, aceita, consente. Agora, somos mais que assasino e vítima, somos cúmplices. Olho pro relógio, mais alguns segundos.

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Estou tremendo, de emoção. Minha postura, perfeita. (...58,). Meus olhos, fixos. Meu braço, firme. (...59,). Minha mão, a mão de Deus. “Nos vemos no céu”. (...00,). O sinal de saída da escola toca, alto, mas não o suficiente para abafar o som do disparo. O corpo dela caiu pro lado, está saindo muito sangue, ela treme um pouco, acho que é a alma subindo.

Guardo o revólver, as luvas e a minha blusa na mochila. Me misturo às pessoas na saída… Saí.


“Foi então que, derrubado, ele começou a perder o orgulho excessivo e a compreender melhor, torturado sob os castigos de Deus pelos constantes sofrimentos”

(II Macabeus 9:11)


Sexta. Sábado. Domingo. Segunda. Aula. Notícia.

Todos choram. Todos de luto. Fazem 1 minuto de silêncio. Sinto a glória de ter executado minha função com perfeição, sinto o arrependimento deles em mim, alimentando-me. Haha! Isso! Rezem por ela! Chorem! Arrependam-se! Haha! E lembrem-se, pecadores! “Os anjos do céu só estão dizendo Amém”, e não se esqueçam de quem os anjos são, não se esqueçam de quem diz:

- Amém.



2 comentários:

  1. com todo o respeito... achei esse texto horrível... mas pelo menos foi bem fiel a biblia, ultra violência gratuita e inocentes pagando pela estupidez e pecados alheios.

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  2. Haha, perdoeme se ofendi de alguma forma.
    A "ultra violência gratuita e inocentes pagando pela estupidez e pecados alheios." que você apontou, foi justamente o que eu gostei nele, neste caso, temos uma divergência de gosto. Espero que este texto não o desencoraje de ler os próximos.
    Abraço.

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