"Ó vós que aqui entrais: perdei toda a esperança!"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A brincadeira

Levo um soco na cara, dois, três, quatro. Nojentos desgraçados. Cinco. Esse último doeu pra caralho.


As pessoas estão apenas assistindo, uns até viraram as costas. Porra, cadê os meus amigos agora?
Os canalhas malditos ainda me espancam, não paro de ouvir um zumbido. Ninguém faz nada. Desgraçados. Me abaixo em um lugar onde não apanho dos três ao mesmo tempo. O branco menor chuta minha costela, um, dois, três, quatro, quatro chutes. Nojento, sociopata, asqueroso, neandertal. Eles estão com uma raiva incontrolável, será que vão me matar? Porra, era pra tanto? Me matar? Ah não, haha, filhos da puta, morrer eu não vou mesmo. É pra brincar? Então vamos brincar nessa porra.

Me levanto com sangue nos olhos, gritando, eu é que sou o neandertal agora, quem sabe com a minha selvageria eles se assustem. Se assustaram, o maiorzinho de cabelo raspado pegou uma garrafa de vodka. Porra. E ainda tem vodka ali pra deixar alguém bêbado. Maldito, vai desperdiçar a bebida. Inconsequente, safado, folgado, estúpido. Tentou quebrar a garrafa na minha cabeça, ela não quebrou de primeira. Fiquei tonto. Lá vem a segunda garrafada. Desviei. Cadê os meus amigos? O de toca me deu um empurrão. Perdi o equilibrio. E lá vem a garrafa. Dei um tapa nela. Soco na minha cara. Devo estar horrível. Minha mochila. Tenho que pegar a minha mochila.

Coloco a cabeça entre os braços, tento passar por eles, soco no estômago, costela, cabeça. Passei. Corri pra mochila. Eles vêem atrás de mim como se fossem cães. Desgraçados, filhos de uma safada nojenta. Abro a mochila, pego meu canivete. O menor me deu uma voadora no meio do peito. Ordinário, canalha, covarde. Caí, mas me levantei rápido. Armei o canivete. "Vem agora safado!". Eles pararam. Olho pro maiorzinho, "O que foi seu puto? Pega a garrafa lá vai, pega!". Corro atrás dele. O de touca quer ser herói, tenta me acertar um soco enquanto eu corro atrás do amigo dele. Acertou, no meio do meu nariz. Enquanto estava suspenso no ar, meti o canivete no cretino, bem no ombro, acho que rasguei o deltóide todo desse filho da mãe. Ele gritou feito uma menina. Afeminado, veado, fresco.

Caí de costas, só tenho tempo de ver o vidro todo trincado da garrafa vindo na direção da minha cara. Por sorte, ela já estava bem frágil, quebrou com muita facilidade na minha testa, não doeu tanto, mas abriu um corte, deve ter uns cinco centímetros, merda. Maiorzinho desgraçado. Peguei ele pela perna, enfiei o canivete no alto da coxa dele, perto da bunda e o desci com violência. Semitendinoso, bíceps femoral, semimembranoso, tudo indo pro saco. O maldito vai demorar pra levantar daí.

Agora sou só eu e o branquinho, o veado já está com cu na mão. O sangue está caindo sobre meus olhos, mal enxergo, mas nem assim vou deixar ele escapar. Me arrebentou enquanto estava em maior número, ? "Filho da mãe, quando eu te pegar, vou cortar tanto seu flexor que você nunca mais vai pegar um copo de novo, vem cá corno, vem!". Ele está quieto, desgraçado.
Correria. Gritaria. Alguém pesado pula em mim. "Vai vagabundo! A casa caiu!". Tento entender o que está acontecendo. O cara esta fardado. Não acredito. Olho por cima do ombro. É um PM, e atrás dele estão meus amigos. Amigos cretinos. Chamaram a polícia. Viatura. Delegacia.

Porte ilegal de arma branca e tentativa de homicídio, só pra começar a brincadeira.




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Texto inspirado na obra de Rubem Fonseca, "O desempenho".

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