"Ó vós que aqui entrais: perdei toda a esperança!"

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Exorcismo

Estávamos deitados. Na mesma cama, do mesmo quarto, do mesmo motel de sempre. Ela é a mulher mais perversa que eu já comi. A mais linda também. Esses olhos verdes, são os maiores que eu já vi. Estão me encarando agora mesmo. Ela está com a cabeça no meu peito. Seus peitos enormes pressionados contra o meu corpo. "Eu te amo". Ela disse.
"Mentira". Eu respondi.

- Você é incapaz de aceitar que eu te ame. Porque?
- Porque você não ama. É simples. Tudo o que eu mais queria era que você me amasse. Eu ia te levar dessa cidade. Não ia ter mais quarto de motel. A gente ia foder na praia, no mar, nas redes. Todas as noites.
- Isso é o que eu mais quero.
- Mentira. Caralho. Para mentir.

Ela me empurrou pro lado, se levantou da cama e começou a procurar as peças de roupa que estão espalhadas pelo quarto. O corpo magro, a pele macia, pálida. Parece que ela flutua suavemente pelo quarto. Andando sem fazer ruídos. Admiro-a por alguns segundos. Enquanto ela se abaixa pra pegar a calcinha dela.
Levanto rapidamente e abraço por trás, meus braços sobre aqueles peitos enormes.

- Então vamos, agora.
- Vai se foder.

E ela desliza entre os meus braços.

- Eu disse que você não queria!

Ando pelo quarto. Puto. Visto minha calça, sento na cama e acendo um cigarro. Ela coloca a calcinha. A calça. Senta na cama e engatinha na minha direção, me abraça pelas costas. Beija o meu pescoço. Faz com que eu deite na cama. Fica por cima de mim. Me beija. Esse beijo. Forte. Macio. Voraz. Puxa minha cabeça contra a dela como se precisasse disso pra sobreviver. Como se sobrevivesse do meu desespero.

- Eu te amo. É com você que eu vou casar. - Ela disse.
- Você não sabe o quanto me tortura quando diz essas coisas.

Ela ameaça sair de cima de mim. Seguro o braço dela. Com força.

- Às vezes eu tenho vontade de matar todos esses filhos da puta que você vive trepando pra satisfazer essa sua auto estima fodida.

Ela se soltou. Levantou puta.

- Cala a boca! Filho da puta! Doente!
- O que é?! A verdade é foda, não é?
- E como você sabe se você não é um dos filhos da puta com quem eu trepo pra satisfazer minha alto estima? Porque você pensa que você é especial?

Ela colocou o sutiã, a camisa.

- Porra eu te amo! Sou a pessoa que mais vai te amar na sua vida! Você sabe dessa merda e quer continuar nesse estilo de vida escroto. Chapada. Dando pra todo mundo!

Ela me olhou com os olhos fervendo. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. "Você é a pior pessoa que eu conheço". Pegou a bolsa dela e seguiu em direção à porta.

Consegui, caguei de novo. E eu sei pra onde ela vai. Sei quem são as amigas cretinas que ela vai procurar. Sei que ela vai passar o dia inteiro bêbada. Vai ficar rodeada de babacas submissos que vão comer na mão dela. Vai sentar no colo de algum espertinho nojento. Vai ser a mulher mais bonita que esse cara já comeu. Vai acordar fodida e de ressaca e vai repetir esse processo até cansar, entrar em desespero, fugir, chorar e me ligar. E eu estarei lá, como um idiota, pedindo, implorando pra ela ir viver  comigo longe daqui.

Ela abre a porta com força, com velocidade. Sou conhecido por ser rápido e silencioso. Antes que ela pudesse dar o primeiro passo pra fora do quarto eu já havia feito dois disparos. Um na cabeça e outro nas costas, do lado direito, uns 20 cm abaixo do ombro. O impacto das balas foram tão intensos no corpo leve dela que a arremessaram para fora, fazendo com que ela parasse na parede do outro lado do corredor.

A fumaça da queima da pólvora ainda saía da ponta do silenciador quando deixei o motel, minha visão estava embaçada pelas lágrimas.. O corpo dela ainda devia estar quente quando peguei o táxi. Vou sumir. Pra longe daqui. Pra algum lugar perto do mar.

Onde eu possa dormir em redes todas as noites.