"Ó vós que aqui entrais: perdei toda a esperança!"

terça-feira, 22 de junho de 2010

O triste fim de Hamless IV, o Grande e Piedoso.

Antes de tudo, devo dizer que dessa vez venho inspirado! Por vários motivos, mas um deles é o texto de uma pessoa que eu adoraria conhecer pessoalmente, mas não, se a vida fosse pra ser legal assim, eu não estaria aqui escrevendo.

Hoje vim lhes contar a estória do senhor Hamless IV. Creio que ninguém o conheça ainda, e no momento, nem mesmo eu.
Bem, é o seguinte, o Senhor Hamless IV é um tirano, eu diria um tirano de papel. Coitado, o pobrezinho vive preso em seu reino, que também é de papel. Mas o que ele não sabe, é que um dia pode acabar chovendo bem em cima da sua utopia. E quando esse dia chegasse, sua reação seria bem interessante de se ver. E bom, choveu.

Dez da manhã, Hamless é acordado calmamente pelo seu fiel mordomo: Rufus.
- Bom dia Rufus, pode mandar trazer o café.
Foi o que disse o nosso tirano, enquanto levantava e caminhava tranquilamente até a janela. Mas ao chegar nela, Hamless logo percebeu algo que o deixou profundamente chateado.
- Rufus! Mas que caralho é aquilo?! -apontava para um homem que estava sentado no banco de papel em frente ao castelo de papel do "Grande e Piedoso Imperador" ou G.F.P. como era carinhosamente conhecido entre seus súditos-
Ao ouvir o grito de seu mestre, Rufus veio rapidamente ver qual era o problema, na verdade, Rufus tinha que o atender rapidamente em várias situações, e mostrava uma sublime habilidade nesta área:
- Diga, meu senhor, o que está havendo?
- Alí! Olha lá aquele cara, o que ele está fazendo ali?!
- Aquele é o senhor Pedro José de Almeida, ele é um funcionário da sua fábrica pessoal de azeitonas, que se afastou por motivos de saúde, acho que é alguma gripe. -Respondeu Rufus, que também sempre respondia às questões de seu mestre-
- Tudo bem! Mas porque ele está agasalhado em uma manhã linda e ensolarada como essas?!
- Bom, meu senhor, ele deve estar com febre por causa da gripe, na verdade, essa gripe já vem se espalhando desde que o senhor baixou o decreto de fechar todos os hospitais.
- E por que eu fecharia os hospitais, Rufus?
- Bom, o senhor disse que não os abriria até que o povo aprendesse a fabricar azeitonas.
- Ah, sim, é verdade, e falando nisso, como andam as pesquisas da fabricação de azeitonas?
- Andam paradas.
- Háhá! Não seja tolo Rufus! Como é que algo pode andar parado?
- Perdoe-me minha falta de raciocínio senhor, mas eu quis dizer que ainda não obtivemos avanços nessa área.
- Porra! Como assim não obtivemos avanços?! Já faz meses que eu mandei esses retardados pesquisarem isso! É, eu não poderia esperar menos do "povão". Háhá!
- Na verdade, meu senhor, o senhor ordenou que decapitássemos um dos pesquisadores para cada dia que o senhor passasse sem azeitonas nacionais. E acabamos matando todos eles.
- Ah sim, ótima técnica, aprendi com meu avô Hamless II, ele dizia que sobre pressão esses virgens metidos a espertos trabalhavam mais rápido. De qualquer forma, pegue aquele tal de Pedro José e tire da frente do meu castelo por descaso com a moda e estética imperial.
- Sim senhor.

O café do senhor Hamless IV chegou, na bandeja havia torradas importadas da Europa, frutas da África, leite de búfala montanhensse dos picos de Caromemruimpramcaralhom, e claro, café importado da Starbucks. O tirano se alimentava calmamente enquanto assistia o pobre senhor Pedro José ser escorraçado dali:
Três guardas gritavam com Pedro. O jogaram no chão. Esperaram que ele se levantasse. O velho começou a sair vagarosamente. Os guardas o empurraram. Ele caiu novamente. "Ah! Esse cara tá enrolando! Dá uma surra nesse nojento que ele sai daí rapidinho!" Gritou Hamless. Os guardas começam a chutar o velho. O velho sangra. Começa uma gritaria atrás do castelo. Os seis filhos do velho correm até o pai. Eles começam a gritar com os guardas. Os filhos têm pedaços de pau na mão. Os guardas têm a mão no revolver. Discussão. O velho morre. Os filhos gritam mais alto agora. O mais novo dá uma poderosa paulada que desfigura o rosto de um dos guardas. Os outros dois sacam os revólveres transformam o rapaz que bateu em uma porra de uma peneira. Os outros cinco filhos avançam sobre os guardas. Os guardas atiram. Os filhos batem. A festa acaba com um pai, dois filhos e três guardas mortos. Brutalmente mortos.
Hamless IV estava muito animado com a cena que havia assistido:
- Caralho! Nossa! Você viu aquilo Rufus? Que pancadaria da porra!
- Senhor, perdemos três guardas e três civis.
- E daí? Foi demais! Deveríamos fazer eventos assim mais vezes!
- Entendo que o senhor tenha gostado, mas isso vai causar grande furor no povão.
- Melhor ainda! Quero que eles façam algum protesto, só pra podermos autorizar o pessoal a atirar.
- Meu senhor, não sei, mas pelo modo como as coisas estão caminhando, acho que eles serão mais violentos dessa vez.
- Cale a boca e mande preparar um camarote pra mim, Rufus.

E neste momento, o céu começou a escurecer em cinza. Nem
Rufus, nem Hamless sabiam o que estava acontecendo atrás do castelo, onde moravam os miseráveis.
Os quatro filhos chegam carregando com os irmãos e com o pai mortos. Chorando, eles gritam coisas. A mãe deles que sofria de doenças cardíacas e não tomava os remédios desde que haviam fechado os hospitais vem e ao ver aquilo tem um enfarto. Ela morre. Os filhos gritam ainda mais alto. Muitas pessoas são atraídas pela gritaria. "Quantos mais eles terão levar até que façamos alguma coisa?!" Gritava o mais velho. O povo estava estático. Um homem no meio da multidão começava a gritar também. Outros gritaram. Alguns parentes da família começavam a quebrar as próprias casas para pegar e distribuir paus. Alguns apareceram com armas de fogo. Também havia pessoas com fogos de artifício. Crianças vieram correndo com barras de ferro, que foram encontradas na fábrica inutilizada. Havia muita gritaria agora, Hamless podia ouvir. Rufus estava pálido e perplexo. A multidão moveu-se em direção á fábrica. A destruíram.
- Ali! Olha Rufus! Eles começaram! Você viu! Mande um batalhão pra lá, diga que eles têm permissão para atirar! Háhá! Traga meu binóculo!
- Si-sim senhor...

O batalhão foi. O povo gritava e xingava. O batalhão se aproximava. Antes que eles chegassem o povo já atira coisas na direção dos guardas. Os guardas atiram. O povo avança. Os guardas dão passos para trás e continuam atirando. O povo não para até alcançá-los. Eles os alcançam. Alguns guardas tentam correr. Outros tentam ficar e morrer pelo imperador. Todos os guardas morrem. O povo segue em direção ao castelo arrastando os corpos dos guardas.

- Nossa! Você viu? Eles estão irritados mesmo! É melhor pedirmos desculpas!

- Senhor, temo que seja tarde demais.
- Tarde? Você está louco? Eles são burros, é só prometermos alguma coisinha e sermos simpáticos! Vai lá Rufus! Fala com eles!
- Ma-ma-mas senhor! Eles vão me matar!
- Vão nada! Vai!
- Senhor Hamless, por favor!

Rufus não era burro, sabia que estavam fodidos. Mas Hamless, ele não, a diversão ainda não havia acabado para o nosso tirano, ainda dava pra brincar mais um pouco com a vida alheia, nem que fosse a de Rufus. Afinal, esse mordomo sempre foi um “lambe-saco de merda”, era fodido desde o colégio, achou que trabalhar com o imperador lhe possibilitaria se vingar daqueles que o atormentavam no colegial. É como eu disse, Rufus não era burro, certamente se vingou de formas terríveis. Mas agora. Agora ele ia saber o que era estar na merda:


Hamless tirou um 38 com detalhes de ouro da gaveta. Apontou para a cara de Rufus. "Vai". Rufus foi. O povo estava na frente do castelo, cara a cara com os últimos guardas que o separavam do imperador. Queimaram os cadáveres na bela praça onde ainda havia o sangue do velho, dos seus dois filhos e dos três guardas. Rufus se aproximou com um sorriso de merda. Falou quatro palavras e meia antes que alguém no meio da multidão atirasse uma pedra em seu rosto. O povo o engoliu. O destruiu. Jogou seus pedaços na fogueira.
O povo avançou. Os guardas atiraram. Os guardas morreram.

Agora, Hamless estava fodido.

( Sim, senhores, completamente fodido! Haha! Aquele tirano, era bisneto de um homem bom, Hamless primeiro. Mas as gerações seguintes de imperadores trocaram a bondade por mesquinharia, talvez porque eles nunca conheceram a realidade, talvez porque nunca tenham saído do castelo de papel, sempre viam aquele lindo jardim a sua frente, talvez porque tenham ficado cada vez mais mimados até ficarem completamente retardados. Mas agora, haha, agora... O acumulo de merda imperial iria começar a cheirar. E quem pagaria? Ninguém menos que o próprio imperador, Carlos Hamless IV.)

Hamless
correu pelas escadas. A multidão derrubou a porta do castelo. Hamless fechava todas as portas no caminho. A multidão derrubaria um a uma. Hamless subiu no ponto mais alto possível. O céu escureceu. Hamless chorou.

Choveu.




E o resto, é
estória.

4 comentários:

  1. ótima estória, ótimo texto. Mas achei que faltou algo, gostei muito de qualquer forma, continue assim.
    http://sobreavidaeotempo.blogspot.com/
    quando tiver um tempo, da uma lida

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  2. Primeiramente, desculpa a demora para ler sua história. Segundo, muito obrigada pela referência no primeiro parágrafo... fiquei muito feliz!
    Terceiro, eu adorei seu texto! Adorei de verdade. Me lembrou muito "Dom quixote", já leu? Ele era maluco assim como o seu imperador.

    E o pior é que aqui na sua história ele é maluco, não é? Mas ele é tão condizente com a nossa vida real... e isso ficou explicito de um modo tão peculiar!

    Parabéns, você melhorou muito! E que continue assim. Estarei sempre aqui!

    Um beijo, e parabéns mesmo, adorei de verdade. :)

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  3. Ah, já ia esquecendo.
    Que imaginação, hein rapaz?!
    hahaha'

    (Ah, mais uma coisa: adorei a sua repetição de "ha-ha's". Isso deu um toque especial à sua história!)

    Beijos!

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